Estudos mostram a evolução da cloração ao longo do último século e pontuam sensibilidades que podem tornar o hábito de beber água regularmente mais seguro e agradável.

As Estações de Tratamento de Água (ETA) têm processo padrão dividido em fases. A Desinfecção é uma delas e consiste na utilização de agente físico ou químico para destruir microrganismos patogênicos. A adoção de cloro (cloração) é o método mais utilizado nessa fase e há um histórico que explica o porquê.

Em publicação de 1994, Sheila T. Meyer – na época Secretaria do Meio Ambiente Ciência e Tecnologia do Distrito Federal) – explica que inicialmente o cloro era empregado na desinfecção da água somente em casos de epidemias. O primeiro país a mudar a dinâmica, adotando o método de forma contínua foi a Bélgica, em 1902. Com o passar dos anos, o processo de cloração evoluiu e há uma linha do tempo formatada por Antônio Carlos Rossin que pontua isso (Quadro 1).

 

Etapas de Tratamento das ETAs:
Coagulação e Floculação – As impurezas são agrupadas pela ação de coagulantes, para que possam ser removidas pelo processo de decantação;
Decantação – Os flocos formados são separados da água pela ação da gravidade;
Filtração – Um filtro de meio poroso granular, capaz de reter e remover as impurezas ainda presentes na água;
Desinfecção – Utilização de um agente físico ou químico, com a finalidade de destruição de microrganismos patogênicos. O método mais utilizado é a cloração;
Fluoretação – Adição de compostos à base de flúor, com a finalidade de redução da incidência de cárie dentária.

 

Valores Máximos Permitidos (VMP) e efeitos na saúde

A quantidade de cloro usada durante a desinfecção é chamada de demanda de cloro na água. A dosagem deve ser alta o suficiente para uma quantidade significativa de cloro permanecer na água para desinfecção. Mas há limite. A Portaria da Consolidação nº 5, publicada pelo Ministério da Saúde em setembro de 2017, trata disso. Em seu anexo XX Ela dispõe sobre o controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, recomendando que o teor máximo de cloro residual livre presente na água esteja entre 0,2 mg/l e 2 mg/L.

Valores acima do recomendado podem causar problemas em relação ao sabor e odor da água, trazendo desconforto ao consumidor. Os efeitos colaterais da superdosagem de cloro podem variar, mas há indícios de riscos à saúde a longo prazo em adultos e até de crises de asma em crianças.

Um estudo realizado por Kenneth P. Cantor e publicado em forma de artigo pelo programa especial de cooperação entre a Universidade de Harvard (EUA) e de Teikyo (Japão) em 1997 pontua aumento no risco de aparecimento de câncer de bexiga com o consumo de água clorada. O estudo foi feito com adultos que consumiram água clorada ou não-clorada durante metade de suas vidas.

 

O que é a cloração?

Quando o cloro, na forma gasosa, é adicionado a uma água quimicamente pura ocorre a seguinte reação:

O ácido hipocloroso (HOCl) formado se dissocia rapidamente:

O cloro existente na água sob as formas de ácido hipocloroso (HOCl) e de íon hipoclorito (OCl-) é definido como cloro residual livre.

 

Remoção do cloro livre com Carvão Ativado

Não por menos, diversos desenvolvimentos ocorreram ao longo dos anos para reduzir os efeitos da presença de cloro livre na água potável. O uso de carvão ativado é o mais sólido nesse senti do. Ele age como adsorvente para reter componentes orgânicos e inorgânicos dissolvidos, bem como o cloro, que influenciam no sabor e no odor da água (Fig. 1).

Segundo Cristi ne Grings Schmidt em sua dissertação de mestrado em engenharia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2011), quando a água passa pela superfície do carvão ativado o cloro livre é primeiro adsorvido na superfície ativa e depois reduzido em íon cloreto. A seguir, a equação simplificada da reação de decloração, na qual o C* representa a superfície do carvão ativado e C*O representa do carvão oxidado.

Fig. 1

No Brasil, os aparelhos que usam ou não carvão ativado, mas que são indicados para melhoria da qualidade da água para consumo humano, devem atender aos requisitos da NBR 16098:2012. Refis da IBBL, por exemplo, são aprovados e garantem redução de pelo menos 75% do cloro livre até o final de suas vidas úteis, geralmente especificadas entre 3 mil litros de água purificada ou 6 meses contínuos de uso.

 

Referências Bibliográficas:

  • BRASIL, 2017. Portaria de Consolidação nº5 Anexo XX. Do controle e da vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. Brasília; Ministério da Saúde.
  • Cantor K et al. Bladder cancer, drinking water source and tap water consumption: a casecontrol study. Journal of the National Cancer Institute, 1987, 79:1269-1279
  • Como a Água é tratada. Caesb. Disponível em: https://www.caesb.df.gov.br/como-a-agua-e-tratada.html. Acesso em 27 de fev. de 2020.
  • Is Chlorinated Water Safe to Drink?. Disponível em: https://www.culligan.com/home/solution-center/resources/is-drinking-chlorinated-water-safe. Acesso em: 21 de fev. de 2020.
  • MEYER, S. T. Chlorine Use in Water Disinfection, Trihalomethane Formation, and Potential Risks to Public Health. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 10 (1): 99-110, Jan/Mar, 1994.
  • ROSSIN, A. C., 1987. Desinfecção. In: Técnica de Abastecimento e Tratamento de Água (Tratamento de Água), Vol. 2, São Paulo: CETESB/ASCETESB.
  • SCHMIDT, C. G., 2011. Desenvolvimento de filtros de carvão ativado para remoção de cloro da água potável. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.